NOSSO ILUSTRE MUQUIRANA: Homenageado RSena desta semana.

Ele não era doutor, não foi político, não era empresário e não fazia parte da elite bocaiuvense, mas mesmo assim foi um dos personagens mais marcantes da história bocaiuvense.

muquirana

Ele não era doutor, não foi político, não era empresário e não fazia parte da elite bocaiuvense, mas mesmo assim foi um dos personagens mais marcantes da história bocaiuvense e contribuiu de forma significativa para com a nossa cultura. Pouco se sabe sobre este homem misterioso. O mesmo era andarilho e tinha locais certos que frequentava e pessoas certas com quem conversava. Parecia viver alheio a tudo a sua volta, gostava de tomar uma cachaça no “Sapucaia Bar” (Bar do Dinei) onde ele mesmo se servia de forma moderada. Andava acompanhado dos inseparáveis cachorros e do seu armamento pesado (um terço ao pescoço e uma faca na cintura). Era discreto e de poucas palavras, aliás de poucos sussurros, pois tinha dificuldades de se comunicar e poucos eram os que tinham sua atenção. Muquirana gostava de falar sobre a época do cangaço na região Nordeste do país e confidenciava aos mais próximos que estava em Bocaiuva após ter conseguido sobreviver a chacina que matou seu líder Lampião (O rei do cangaço) e demais colegas cangaceiros. É isso mesmo… Embora pareça fantasias de um andarilho, existem suspeitas de que realmente Muquirana seria um sobrevivente dentre os cangaceiros liderados por Lampião e Maria Bonita onde Bocaiuva seria o seu refugio.

MISTERIOSO, MODESTO E EDUCADO:

Muquirana não tinha residência fixa e dormia de favor em um cômodo próximo a “Praça do Pequi”. Por gosto próprio dormia no chão duro sem nenhuma proteção e mesmo com ajuda de moradores se recusava a utilizar os colchões que lhes eram doados. No Bar do Dinei, algo incomum para a relação entre “botequeiro” e andarilho. Aos finais de tarde, sempre no mesmo horário, o homem misterioso sentava-se em uma das cadeiras no canto do boteco onde a garrafa de pinga e um copo eram colocados em sua mesa e o mesmo com extrema ponderação e educação servia a ele próprio colocando em seu copo apenas a metade de uma dose de pinga. Após servido o “tira gosto”, Murica ia-se embora para voltar no outro dia e cumprir o mesmo ritual.

HISTÓRIAS E CAUSOS:

Certo dia, Dinei (dono do Bar Sapucaia) resolveu levar Muquirana para um passeio. Primeiro o dono do Bar levou Muquirana até a sua residência, mandou que lhe dessem um banho e lhe colocasse trajes novos. No bolso da camisa foi substituído o cigarro de palha por um maço de “Plaza”. Saíram juntos dono de Bar e andarilho no veículo Passat ano 82. O destino de ambos era o “Pouso de Folia” na fazenda do Seu Atílio. Chegando ao local, onde estavam presentes muitos ilustres convidados, Muquirana virou o centro das atenções. Foi quando o festeiro, Seu Atílio, interrompeu a moda de viola e no microfone gritou: “Quem trouxe Muquirana a esta festa?”Na eminência de ser chamado a atenção por levar um andarilho a uma festa tão popular, o dono do Bar tentou disfarçar a sua ação, mas não teve jeito e diante do interrogatório do dono da festa todos os convidados apontaram para Dinei o qual ficou constrangido. Nesse momento, Seu Atílio surpreendeu a todos dizendo que: “Dinei Sapucaia estava de parabéns pela iniciativa, pois a presença de Muquirana em sua fazenda era era a mais ilustre e honrosa visita que sua família havia recebido naquele dia ”. Deste momento em diante a festa continuou e Muquirana virou celebridade no evento, porém como não gostava de chamar a atenção, não demorou muito para que o andarilho chamasse o dono do Bar em reservado para sussurrando dizer-lhe ao pé do ouvido: “Vamos embora Dinei. Isso aqui não é ambiente pra nós dois não”.

 HOMENAGEM RSENA:

Assim como exposto no início do texto, Muquirana não era elite, não era doutor, não era empresário e nem tinha curso superior, mas mesmo depois da sua morte, ainda é lembrado com carinho e afeto por todos os bocaiuvenses. O andarilho Muquirana é o nosso ilustre homenageado desta semana, afinal o mesmo conseguiu como poucos, ser querido, respeitado e lembrado não pelo que teve e sim pelo que foi e hoje representa.

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5 comentários

  1. Alexandre Dulino

    Poxa Ricardo você está de parabéns com essa matéria a respeito do nosso inesquecível Muquirana. Todos dá área de notícias deveria ter essa iniciativa que você teve e relembrar de figuras ilustres que teve em nossa querida Bocaiúva. Mais uma vez meus parabéns.

    • O Zé Maia dava banho nele e também dava roupas novas e comida. Sem contar que em todo velório, lá estava Muquirana. Adorava tomar café. Era uma figura. Dizem que ele era descendente legítimo de escravo.

  2. CARLOS AUGUSTO VICTOR DE ARRUDA

    Me lembro de muquirana ,tomava seus golo não incomodava ninguém andava pra tudo quanto é lado sempre na dele nessa época o bar do gê e do lado, zé terrível isso nos anos 80 ele não saia de lá era um sujeito muito simples e sincero.

  3. CARLOS EDUARDO

    Parabéns Ricardo. Curiosa as informações sobre esse andarilho que de alguma forma entrou para história cultural da cidade. Uma pena o mesmo não estar mais entre nós e detalhar mais causos sobre sua vida. Sua matéria atiça a curiosidade dos leitores e ainda demonstra como uma pessoa “simples” pode guardar consigo historia interessante de si mesmo, da qual podemos tomar lições de vida.

  4. Bacana ver esta homenagem ao Muquirana. Personagem de minha infância, enquanto muitos o maltratavam, eu e principalmente minha irmã Rosana tentávamos conversar com ele. Muquirana é um dos personagens que levo na memória e que de Laguna forma contribuiu para a percepção de mundo que hoje tenho. Escrevam também sobre a Princesa Isabel, outro ícone na amada Bocaiúva da década de 80.

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