SOBRE HENFIL E O SERTÃO: Bocaiuvense faz estudo sobre a vida de Henfil e sobre o Sertão Norte Mineiro.

Influenciada pelo pai, José Cardoso Neto, a pesquisadora engajou na luta por uma sociedade mais humana e menos desigual. Em entrevista ao Site RSENA, a bocaiuvense Merilane Cardoso falou sobre o seu trabalho.

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Merilane Cardoso e Ivan Consenza, filho do Henfil.

A bocaiuvense Merilane Emanuele Cardoso, Assistente Social (PUC – Minas), iniciou um estudo sobre o Sertão Norte Mineiro e sobre a vida do cartunista Henfil. O trabalho em pesquisa resultará em um livro que, segundo ela, será lançado em breve. O interesse em pesquisar sobre a vida do cartunista Henfil surgiu quando Merilane Cardoso participou do Comitê da Ação da Cidadania contra a miséria e a fome e pela vida, idealizada por Betinho irmão de Henfil. Merilane Cardoso foi líder estudantil na década de 90 no DCE da PUC Minas onde, no mesmo período, participou do Programa Comunidade Solidária no Estado do Pernambuco em meados dos anos 2000. Foi coordenadora da Comissão Metropolitana de Belo Horizonte na área de Segurança Alimentar por dois mandatos. 1a Assistente Social do Restaurante Popular de Belo Horizonte. Trabalhou na ampliação dos demais restaurantes. Uma das fundadoras do Banco de Alimentos de Belo Horizonte. Perita da Justiça Federal. Tutora e professora no curso de Educação e empreendedora da UFSJ. Concursada da Prefeitura Municipal de São João Del Rei, foi a 1a Assistente Social da Secretaria Municipal de Educação com atuação no CEREI (Centro De Referencia em Educação Inclusiva). Membro da Comissão Gestora Núcleo de Assistentes Sociais no Campo das Vertentes. A pesquisadora diz que sempre foi militante dos movimentos sociais. Atuou como Secretária Municipal de Assistência Social, Cidadania e Habitação de São João Del-Rei nos anos de 2013 a 2016. Coordenadora Regional de Segurança Alimentar Nutricional do Campo das Vertentes. Cidadã Honorária de São João Del-Rei, foi Condecorada com a Medalha dos Inconfidentes e atualmente é Diretora Regional de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado de Minas Gerais e pesquisadora. Influenciada pelo pai José Cardoso Neto engajou na luta por uma sociedade mais humana e menos desigual. Em entrevista ao Site RSENA, Merilane Cardoso falou sobre o seu trabalho:

Pergunta RSena: Sobre a pesquisa que você desenvolve, qual o objetivo?

Resposta Merilane: Então… A democracia sempre foi uma agenda cara para o povo brasileiro, ainda somos uma colônia com fortes laços de dependência com o capital internacional e a sua cultura. O curto período democrático, depois dos anos de chumbo, que vivemos se deu em função da luta de homens e mulheres que deram a vida a fim que  as liberdades fossem de fato um direito… Nesse parco contingente de bravos homens, situa-se o “ Rebelde do Traço”, Henfil. Henfil deveria ser matéria obrigatória nas instituições educacionais para uma fiel compreensão da nossa história recente. Posso afirmar que estou tomada pelo mais audacioso dos objetivos de uma pesquisa compreendidos na intercessão do “ rebelde do traço”  e o sertão.  A inquietude de Henfil por um país mais com justiça social, a sua luta pelas “ Diretas Já” no período de redemocratização do país, o humor na relação com uma vida condenada desde criança,  a iminência da morte prematura em função da hemofilia, os personagens da Caatinga, a relação conflituosa com a religião e a interferência da matriarca D. Maria, conferem elementos originalmente advindos  de um DNA sertanejo. Já dizia Guimarães Rosa, o sertanejo é acima de tudo um forte. Henfil foi. Foi além, foi um gênio que disseminou a esperança na sua obra e vida.

Pergunta RSena: Qual a importância deste resgate histórico ao cidadão norte-mineiro?

Resposta Merilane: Não tem como falar do Brasil sem ouvir o sertão, assim como não tem como falar de Henfil sem passar por Bocaiuva. Não importa quanto tempo ele morou ou se não morou na terra do Senhor do Bonfim. Os elementos constitutivos de sua personalidade são suficientemente reveladores. O livro Cartas da Mãe ratifica minha constatação. O Norte de  Minas é um celeiro de intelectuais e existe antes da SUDENE, é preciso decodificar esse universo tão plural, tão rico, mas tão desigual. Somos um povo parido na seca e na escassez, Darcy Ribeiro, nosso vizinho de Montes  Claros já deu a sua contribuição, agora é a nossa vez. E, eu me arrisquei. Encontro-me, hoje, imersa nas veredas do nosso grande sertão buscando um clarão para as incompreensões de um território  multifacetado onde o destino me fez retornar.

Pergunta RSena: Você estuda também sobre a vida do Henfil. Faça um resumo da personalidade do cartunista.

Resposta Merilane: Para essa pergunta tomo emprestado a fala da  irmã Wanda Figueiredo registrada no  livro Balaio Mineiro,  “ eu simplesmente como escriba não daria conta de revelar o Henfil”.  Mas darei a minha contribuição no curso deste trabalho.. Para isso uma agenda acerca do seu legado está sendo edificada  e tem como ponto de partida o sertão, cenário do amor de D. Maria e do Sr. Henrique que pariu o terceto mais famoso dos trópicos; Betinho, Henfil e Chico Mário e as irmãs que não ficaram solenemente ignoradas na história desta família brasileira.

Pergunta RSena: Muitos dizem que Henfil é carioca. Afinal… Henfil é natural de qual cidade?

Resposta Merilane: Henfil nasceu em Ribeirão das Neves quando o pai o S.r. Henrique foi trabalhar na Penitenciária Agrícola a convite de José Maria Alkimim. Eu diria que Henfil é mineiro com alma sertaneja.

Pergunta RSena: Em Bocaiuva tivemos enredo de escola de samba em homenagem ao Henfil. Temos também um centro cultural que leva o nome do cartunista. Você acredita que o bocaiuvense tem a noção exata do porquê de tais homenagens?

Resposta Merilane: Nem o bocaiuvense, nem o brasileiro. Mas o gestor à época teve.  Esse ano fez 30 anos da despedida de Henfil,  vítima de AIDS contraída nos bancos de sangue contaminados, um crime político à época. Uma vida  ceifada com apenas  43 primaveras . Apesar de bons trabalhos no tocante ao seu legado, a sua obra ainda é restrita a poucos, vejo a necessidade de popularizá-la no sentido de garantir acesso a nova geração que emerge um conteúdo crítico, com humor e esperança.  Ivan, filho do Henfil  tem feito grandes esforços nesta direção e muito tem contribuído com meu trabalho. E, foi numa de nossas conversas que o meu projeto tomou a direção necessária para que não fosse mais do mesmo. Quero trabalhar o ineditismo e a singularidade que lhe são peculiares.

Pergunta RSena: O bocaiuvense Betinho, irmão do Henfil, teve destaque internacional pelo seu trabalho de combate à fome. Outro bocaiuvense, o Patrus, se destacou pela sua  liderança a frente de programas sociais importantes. Podemos, dizer que Bocaiuva exerceu através de seus filhos papel importante no combate à miséria do país?

Resposta Merilane: Bocaiuva confirma sua tradição humanista expressas nas trajetórias de luta do Betinho e Patrus que pautaram a fome e a soberania alimentar como prioridade absoluta perante as mazelas sociais.  Betinho atuou na vertente dos movimentos sociais, onde conseguiu mobilizar toda a nação nos Comitês da Ação da Cidadania, contra a fome pela vida. Ele sabia que a campanha em si não erradicaria a fome, todavia, uniria o povo numa ação de cidadania e solidariedade. Um elemento importante que assegura o êxito destes nossos conterrâneos se dá, sobretudo em função da relação estabelecida com as desigualdades, fora do academicismo, norteada  por experiências reais e empíricas.  Na esteira da inclusão social nas últimas décadas, Patrus, capitaneou o grande projeto republicano de diminuir as fronteiras da exclusão social. E, não se trata de uma inclusão excludente, falamos de milhões de brasileiros que saíram da linha da miséria por meio de programas sociais com alcance em todo território brasileiro. Quando me perguntam o que Patrus fez por Bocaiuva eu sempre respondo: – Patrus fez pelo Brasil. Seguramente, além de um grande gestor público  é essencialmente um humanista. Duas grandes referências na minha militância social e atuação profissional que reverberam reivindicações de cidadania e ética nas relações societárias.

Pergunta RSena: Qual a sua opinião sobre o atual cenário nacional?

Resposta Merilane: O Brasil vive a desconstrução de uma agenda nacional de desenvolvimento, assentada no neoliberalismo que impõem a visão do capital especulativo em detrimento das políticas sociais e emancipatórias do desenvolvimento social e regional. É urgente devolver o Brasil para os brasileiros e os brasileiros somos nós, a classe trabalhadora.

Pergunta RSena: Por que o Brasil voltou para a linha da miséria e ao mapa da fome?

Resposta Merilane: Durante 13 anos foi realizado um esforço para pagar a dívida histórica da pobreza e da desnutrição e quando esse esforço sofre uma retração, após o golpe da presidenta Dilma, toda a estrutura entra em colapso, uma vez que o atual governo federal  trata o desenvolvimento social de forma lateral, com cortes drásticos.  A política social perde sua centralidade dando lugar aos interesses do grande capital. Conforme “ Pesquisa de Desigualdade Mundial 2018”  o Brasil tem maior concentração de renda entre o 1% mais rico. A concentração de renda nas mãos de poucos legitima um governo também para poucos. O corte no orçamento corrobora para a volta da fome e da miséria, desenhando um quadro outrora superado.

Pergunta RSena: Quando acontecerá o lançamento de seu trabalho?

Resposta Merilane: Medir o tempo é tarefa  difícil para uma pesquisadora, mesmo porque além os elementos objetivos é preciso poesia e leveza, além de uma narrativa coerente com a proposta desenhada no meu trabalho.  Preciso tocar com respeito e zelo o traço do cartunista do Pasquim. Não tenho pressa de finalizar ao passo que corro ao encontro do Henfil Sertanejo.

Pergunta RSena: Um recado ao país e todos os norte-mineiros

Resposta Merilane: Não vivemos a primeira nem será a última crise da democracia apesar dos seus contornos de crueldade com os mais vulneráveis.  O cerceamento das liberdades, a perda dos direitos sociais e o estado de exceção é uma fase, cuja superação se dará por meio da participação popular e a reorganização de uma nova agenda de desenvolvimento para o Brasil. Somente a participação popular poderá fazer barricadas ao desmonte do Estado Democrático de Direito e barrar as reformas do governo Temer. Temos dois projetos em disputa, de um lado um projeto que afiança o capital especulativo e do outro o projeto afiançador do desenvolvimento  e a emancipação social. Eu fico com o segundo! Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos, assim falou Guimarães Rosa.

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